Cenário de Operações de M&A no Brasil
Historicamente, o mercado de fusões e aquisições (em inglês Mergers & Acquisitions, ou M&A) brasileiro não possui crescimento linear, sendo fortemente impactado por uma série de variáveis, tais como cenário político, inflação, taxa de juros, desemprego e outras.
Estes impactos ficam evidentes ao observarmos o volume de operações realizadas no país ano a ano, demonstrado no gráfico abaixo. Após 879 transações em 2014 (recorde histórico até aquele momento na série levantada pela PWC desde 2002), o conturbado cenário político afetou significativamente a quantidade de M&As de 2015 e 2016. Contudo, a partir de 2017, com a estabilização do cenário político e e redução da taxa de juros e inflação, houve uma potente retomada nas operações de M&A, levando o volume de operações a renovar suas máximas históricas.

A continuação desta tendência de recuperação acelerada do mercado de M&A’s para 2021 depende de fatores estruturais da conjuntura política, econômica e sanitária do Brasil. Isto é, a performance do segmento está condicionada na recuperação e estabilidade da economia após o encolhimento causado pela pandemia, na capacidade do Estado brasileiro de manter a inflação sob controle e de avançar com a agenda de reformas tão almejada pelo mercado e, por fim, no agravamento da situação sanitária.
Estes três fatores possuem impactos diretos e significativos nas operações de M&A, devido às suas implicações não só no faturamento e na perspectiva de rentabilidade futura das empresas (elementos fortemente influenciados pela imposição de medidas restritivas à circulação de bens e pessoas e pela interrupção de determinadas cadeias produtivas), mas também em toda a dinâmica das operações.
Destaque Para Saúde
Passando a observar as expectativas para o volume de deals por setor, enxerga-se uma forte tendência de aquecimento do segmento de saúde, que apresentou 128 fusões e aquisições mesmo em meio à pandemia. Além disso, em Março, o setor foi palco da maior fusão da última década no Brasil – a união entre a Hapvida e Notredame Intermédica, duas gandes operadoras verticalizadas de planos de saúde privados, criará uma empresa com valor de mercado de R$110,5 bilhões, a 11 maior empresa de capital aberto da B3.
Povoado por muitas empresas familiares que, em curto prazo, devem ser alvo de empresas maiores em busca de escala, o setor se encontra em plena expansão, representando uma parcela cada vez maior do PIB. Estes dois fatores contribuem para impulsionar o número de M&A’s, reforçando as perspectivas positivas para o setor.
Existe Tendência de Consolidação das Empresas no Setor
Este aumento do volume de operações de M&A no setor de saúde será puxado, principalmente, pelo segmento de operadoras de plano de saúde privados, caracterizado por ser rentável e pouco sujeito às oscilações da inflação, do câmbio e de outros fatores macroeconômicos desafiadores que devem ter proeminência em 2021. As perspectivas positivas para este segmento são reforçadas em face da pandemia, onde qualidade de vida e aspectos de saúde pública concentram as atenções de todos.
Ainda, a tendência de consolidação das empresas do setor deve continuar a agitar o mercado, com a aquisição de pequenos players por parte de participantes de mercado maiores. Este processo fica evidente quando olhamos para o mercado de saúde suplementar, onde o número de operadoras de seguro de saúde médico-hospitalares diminuiu 35,25% de 2009 a 2020.
Com baixa penetração em regiões que não o Sul e Sudeste e dominado por seguradoras pequenas, a pulverização deste mercado também beneficia estratégias de crescimento inorgânico, como os M&A’s.
A aquisição direta de novas empresas permite aos players maiores acessar novos nichos, áreas ou mercados. Tal estratégia traz grandes benefícios para os compradores, que se inserem em um mercado já com o know how da área/região, maquinário, corpo clínico e carteira de clientes consolidada, dentre outros aspectos.
Neste sentido, players bem capitalizados saem na frente em busca dos melhores ativos à disposição no mercado e, portanto, conclui-se que o cenário do setor como um todo e as recentes operações envolvendo empresas do setor na bolsa, como a abertura de capital da Rede D’Or, e que resultaram na entrada de novos recursos no caixa de grandes grupos, certamente contribuirão para o crescimento de negócios na área da saúde em 2021.


